domingo, 29 de janeiro de 2023

Dom Angélico - O bispo "andarilho", profeta dos pobres e da justiça completa 90 anos



O Coletivo Popular Judeti Zilli deseja um excelente domingo.
Em breve entregaremos a homenagem ao nosso querido Dom Angélico. O Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior faz uma belíssima reflexão em comemoração ao aniversário de 90 anos de Dom Angélico neste semana.
Ontem, 22 de janeiro de 2023, na paróquia de São Judas Tadeu, no Jardim Miriam, acolhidos com tanto zelo pelo padre Toninho, estivemos agradecendo a Deus a vida do bispo Angélico. Ele tem como mote episcopal: Deus é amor. Dom Angélico Sândalo Bernardino completou 90 anos e nove meses de vida no dia 19 último. Havia tanta gente cantando, rezando, vivendo a festa da Eucaristia! Ministro de Estado Paulo Teixeira, deputada Federal Luiza Erundina, deputado estadual Paulo R. Fiorillo, professora Ana Flora, biblista eminente, Prof. Wagner Lopes Sanchez, da pós graduação da PUC-SP com a esposa Luzia, povão do Leste e do Oeste da cidade, religiosas (entre elas a irmã Sueli Aparecida Belatto, das cônegas de Santo Agostinho, vinda direto de Brasília-DF para ali estar), tantas leigas, ministros, presbíteros, amigos e a família angelical vinda de Piracicaba.
Como não dizer o nome do bispo e irmão querido ali presente, dom Pedro Luiz Stringhini, vindo de Mogi das Cruzes, com palavras nascidas no fundo da alma para comungar o amor luminoso da Igreja em festa.
Ao ver tanta gente me passou pelo pensamento aquele trecho de Santo Agostinho, nas Confissões, livro X, 6, onde o bispo de Hipona escreve:
“Mas, que amo eu quando te amo? Não uma beleza corporal ou uma graça transitória, nem o esplendor da luz, tão cara a meus olhos, nem as doces melodias de variadas cantilenas, nem o suave odor das flores, dos unguentos, dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão suscetíveis às carícias carnais. Nada disso eu amo, quando amo o meu Deus. E contudo, amo a luz, a voz, o perfume, o alimento e o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o odor, o alimento, o abraço do homem interior que habita em mim, onde para a minha alma brilha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus.”
Aplicando tal pensamento ao amigo Angélico quis me colocar a questão: Quem nós amamos quando amamos ao filho querido da cidade de Saltinho de Piracicaba?
Em primeiro lugar, amamos Duílio e Catarina, pais de Angélico. É raro que ele não diga o nome de seus amados progenitores. Isso é tão belo e uterino. Uma vez perguntei a um grupo de seminaristas que viviam quatro anos juntos em uma casa de formação se sabiam os nomes dos pais de seus colegas de moradia. Ninguém soube dizer o nome de nenhuma das outras mães. Achei tão estranho!
Dom Angélico fala com tanto amor de seus pais que nos convida a falar dos nossos e assim trocamos raízes e histórias de nossas famílias. Amamos Angélico por nos ensinar a falar do pai e da mãe.
E por ter sempre consigo sobrinhas, parentes, irmã Carmen Julieta, padres que lhe querem muito e povo que sabe que tem nele um bispo com cheiro de ovelhas e de flores. Ah! Ele mora no Jardim Primavera!
Em segundo lugar, amamos as lutas e os compromissos da Igreja junto aos empobrecidos. Sempre haverá um abraço forte, um beijo no rosto ou na testa e um carinho personalisado para as pessoas mais simples e aos/às trabalhadores/as. Aprendemos a colocar no centro das missas e das pastorais os últimos da cidade e da sociedade. Ninguém se sente excluído, pois na missa e as orações de Angélico, cabem todos. Todos e todas. Esse amor sem fronteiras nem paredes. Amor que constrói pontes e não se fixa insensível às normas e leis que sufocam e enrijecem os corações. Amor que luta, sem perder a ternura jamais. Fora do amor, não há salvação.
Em terceiro lugar, amamos a esperança rebelde e teimosa. Dom Angélico sempre traz marcado a fogo a memória de profetas como dom Paulo Arns, dom Luciano Mendes, dom Helder, Frei Gorgulho, padre Toninho orionita, Santo Dias da Silva, Madre Cristina do SEDES SAPIENTIAE, Alexandre Vannuchi Leme, Madre Maurina, Manoel Fiel Filho, padre Ticão, Carlos Strabelli e tantas gentes que marcaram a sua vida em Ribeirão Preto, em São Miguel Paulista, na amada Brasilândia (que ele as vezes chama de Brasalândia – o fogo de Deus), e em Blumenau, na sua Bela e Santa Catarina. Dom Angélico pouco fala de si. Terá feito terapia para evitar tanto narcisismo clerical? Ou seria uma reza forte mergulhando em seu interior para saber-se conhecedor de suas belezuras bem como de suas fragilidades? Creio que siga buscando Deus nas estradas e meandros da vida. Ao buscar Deus, Angélico não se perde. Deus se deixa encontrar e lhe confidencia segredos de amor. Ao falar de companheiras/os de viagem, faz a travessia nas águas do mar da vida conduzido pelo Espírito do Ressuscitado. Cantamos com suave alegria a melodia do Roberto, emocionados: Meu querido, meu velho, meu amigo!
Em quarto lugar, amamos ao ver Angélico seu modo despojado de ser bispo. Nenhuma atenção às pompas e títulos. Cuidado reverente e emoção profunda na Eucaristia, sem brilhos nem lantejoulas. Seu cajado é sempre o braço amigo de um padre para cuidar das ovelhas e não permitir a sanha voraz dos lobos. Sua mitra é sempre o carinho e o afago de algum operário ou mesmo trabalhadora. Seu anel é sempre a aliança com os pobres. Dom Angélico foi ordenado bispo para viver “anzolado” com os pequeninos. A singeleza de sua presença deixa o Cristo resplandecer. Sem magia. Pura graça divina. Gratuitamente. Ele fala do amor a Jesus apaixonadamente. Toca nossos corações e mentes com a palavra jornalística bem burilada e direta. Não há firulas nem meias-palavras. Não há diversionismo. Angélico vai direto ao ponto. Basta dizer que o padre Júlio Renato Lancellotti o tem como um pai espiritual, assim como dezenas de padres e leigos e religiosas pelo Brasil todinho. Angélico fala de Deus falando de corpos, de desejos, de pães e de utopias. O Cristo de Angélico é sempre o Jesus Ressuscitado que caminha animando-nos, encorajando-nos, alegrando-nos, desejando ser mastigado e tornar-se corpo em nossa carne e corações. Isso talvez ajude a entender o porquê de Angélico ao ser nomeado bispo auxiliar pelo santo padre Paulo VI ter sido indicado bispo titular de Tambeae, região da Bizancena, estabelecida em 1933, ao norte da África.
Quem havia sido bispo da mesma titularidade episcopal, como auxiliar, antes de dom Angélico foi São Oscar Arnulfo Romero y Galdamez, mártir de El Salvador. Que inusitada conexão amorosa ser Angélico o imediato sucessor do bispo mártir da América Latina! Só o amor explica! Nem Freud conseguiria. Enigma celeste providencial!
Em quinto lugar, amamos em nosso amigo e irmão Angélico suas fragilidades e doçuras humanas. Sabemos que a sua coluna dói, que suas vistas estão se esvaindo, e ainda assim ele está conosco cutucando, falando e tocando cada um e uma como irmão e irmã de Jesus. Sentimo-nos família angelical. Até Dilma e Lula foram atraídos por esse amor e carinho paternal. Quem não?
Afinal, quem amamos quando amamos dom Angélico, senão o próprio Deus que se faz sinal e sacramento nas vidas que nos cercam e alimentam nossa frágil esperança. Para saber quem é Deus é preciso olhar Jesus. Só Jesus revela o Pai. Sem olhar a humanidade de Jesus nunca chegaremos a divindade de Deus. Só há uma porta para o divino: o humano de Jesus. Gente como Angélico nos mostram esse portal de fé e luz. Esse portal é revelado por Deus aos santos e aos místicos. E os amados de Deus nos confidenciam esse segredo nada secreto. Deus é Amor.
Amamos Angélico por essa sua personalidade amorosa, por seu carisma e audácia jornalísticos, pela clareza política e, sobretudo pela leveza espiritual.
Amamos Angélico por seu amor radical a Jesus. Amamos Angélico por seu amor ecumênico à Igreja de Jesus. Amamos Angélico por que esse amor nos conecta com o Deus Abbá-papaizinho, fonte de compaixão. Amamos Angélico, pois ele caminha ao lado do papa Francisco com a convicção fraterna de um novo modo de ser Igreja missionária e sinodal. Graças a Deus temos esse perfume do Sândalo para nos fazer inspirar o perfume de Cristo e sermos ungidos para a luta.
Quem não sente o perfume de Jesus na companhia de Angélico? Angélico vem sempre com a bateria carregada em mil volts divinos! Damos graças a Deus pelos 90 anos e nove meses.
Coragem!
Esperança sempre!
ado. ado. ado. Muito Obrigado.
Texto: Fernando Altemeyer




 

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